4 NEGÓCIOS SOCIAIS QUE ESTÃO A PROMOVER A REINSERÇÃO SOCIAL

A reinserção social é um dos maiores desafios enfrentados por pessoas em situações de vulnerabilidade, nomeadamente aquelas que tiveram contacto com o sistema prisional.

Os  negócios sociais têm-se destacado como ferramentas fundamentais para facilitar a reintegração dessas pessoas na sociedade. Além de oferecerem oportunidades de emprego e formação a indivíduos previamente privados de liberdade, estas empresas criam um ambiente de trabalho solidário e centrado na pessoa, onde outros fatores que levam a comportamentos de risco também podem ser abordados.

Empresas que contratam pessoas de contextos desfavorecidos transformam vidas ao aproveitar um enorme potencial de talento e determinação que muitas vezes permanece inexplorado. Além disso, ao utilizarem os negócios para transmitir uma mensagem, estas empresas desempenham um papel crucial na sensibilização para as desvantagens sociais.

No âmbito do projeto INSPIRE, organizado pela rede RESCALED e financiado pelo Programa Erasmus+ da União Europeia, que visa explorar casas de detenção e a sua interação dinâmica com o contexto urbano, económico e social local, foi realizada uma atividade dedicada ao estudo de empresas sociais e a sua ligação ao sistema de justiça. Para este fim, foram conduzidas várias entrevistas com diversos negócios sociais implementadas em toda a Europa.


Aqui destacamos quatro iniciativas inspiradoras de diferentes países que estão a transformar vidas.

1. RESHAPE Ceramics (Portugal)

A RESHAPE Ceramics é um negócio social, fundado pela RESHAPE, que combina cerâmica e reinserção social. Este projeto português emprega pessoas que estão ou estiveram privadas de liberdade em oficinas de cerâmica, tanto dentro como fora das prisões. O objetivo é dotá-las de competências profissionais e criar oportunidades de transição para o mercado de trabalho, reduzindo assim o risco de reincidência. Os produtos de cerâmica são vendidos online, sensibilizando para a importância da reinserção social.

2. Zuivere Koffie (Países Baixos)

O Zuivere Koffie é um negócio social nos Países Baixos dedicado à produção de café, chá e pastelaria dentro de uma prisão. Esta empresa emprega cerca de 50 pessoas e também gere vários cafés em Amesterdão e Zaandam. A Zuivere Koffie oferece oportunidades de emprego e formação e ajuda os trabalhadores a encontrarem emprego após a sua libertação.

3. Restaurante Strecha (República Checa)

Combinando gastronomia e impacto social, o Restaurante Strecha, localizado no centro de Praga, emprega mais de 20 pessoas que estiveram privadas de liberdade ou que se encontram em situação de sem-abrigo. Esta empresa social oferece diversas funções para os trabalhadores, desde a cozinha ao atendimento ao cliente, promovendo um ambiente de trabalho inclusivo e solidário.

4. La Ferme de Moyembrie (França)

A La Ferme de Moyembrie é um projeto que acolhe indivíduos condenados a cumprir pena fora da prisão. Este modelo utiliza o trabalho como pilar central para a reinserção social, proporcionando dignidade, estrutura e propósito aos seus residentes através da participação ativa em atividades relacionadas com agricultura biológica, criação de animais, produção de queijo e iogurte, e culinária. Envolve ainda a construção e manutenção de maquinaria e veículos.

O projeto INSPIRE destacou exemplos concretos de como os negócios sociais podem contribuir para a justiça restaurativa e a reinserção social. Estas empresas oferecem benefícios como:

  • Assistência na superação do isolamento social, em particular o emprego de pessoas com deficiência, excluídas do mercado de trabalho, desempregadas e outros grupos vulneráveis.
  • Exploração de novas formas de reformar os serviços sociais públicos.
  • Atração de cidadãos para participar em iniciativas sociais de forma voluntária, unindo comunidades em torno de questões sociais.
  • Uso mais eficiente dos recursos regionais disponíveis para resolver problemas sociais.
  • Redução do peso nos orçamentos locais na resolução de questões sociais.

Estas iniciativas provam que é possível transformar vidas ao explorar o potencial das pessoas e criar pontes entre a justiça e o mercado de trabalho. Cada uma reforça o valor de combinar impacto social com modelos de negócio sustentáveis, mostrando que a reintegração não é apenas uma possibilidade, mas também uma prioridade.

 This article was written as part of the Erasmus+ funded INSPIRE-project. Views and opinions expressed are however those of the author(s) only and do not necessarily reflect those of the European Union or the European Education and Culture Executive Agency (EACEA). Neither the European Union nor EACEA can be held responsible for them.

Ana Guerreiro

Doutorada em Criminologia,  Professora e Investigadora na Universidade da Maia e na Universidade do Porto.