3 ANOS DE RESCALED
Escrito por: Duarte Fonseca.
Pediram-me para escrever um artigo sobre os 3 anos de RESCALED que passaram. Contudo, parece-me que seria oportuno referir que o nascimento do RESCALED se dá em 2017, numa primeira reunião nos arredores de Bruxelas em que estivemos presentes. Todos sabemos que o Covid-19 nos veio alterar um bocadinho a percepção do tempo, mas é impressionante pensar que já passaram 5 anos.

Reunião em Bruxelas, com a presença de Teresa Cardoso, co-fundadora da RESHAPE
Mais do que me focar no período temporal do RESCALED, e do quanto nos orgulhamos de ser membros fundadores, vou tentar partilhar aqui o que foi que ganhamos, na RESHAPE, e em Portugal, por fazer parte deste bonito movimento, cheio de pessoas brilhantes, motivadas, inspiradoras e com o coração no sítio certo.
1. Visão
A RESHAPE nasceu em Março de 2013 (embora juridicamente só tenha sido constituída em 2015). Era para nós muito claro, desde o momento zero, que não queríamos criar apenas mais uma associação de apoio social, no setor prisional. Sim, também queríamos prestar apoio social a quem está ou esteve preso, e às suas famílias (como fazemos), mas queríamos acima de tudo ajudar o nosso país e o nosso sistema prisional a modernizar-se e a conseguir atingir melhores resultados. Desde cedo foi claro que isso passava por questionar os modelos de detenção atuais (grandes instituições prisionais, tipicamente isoladas da sociedade) e repensar esses mesmos modelos à luz do Século XXI. Se queríamos que a reinserção funcionasse teríamos que pensar em algo que pudesse aproximar-se do que é uma rotina “normal” em sociedade (Princípio da Normalização).
Durante anos seguimos e fomos inspirados pela metodologia APAC, inventada e implementada no Brasil há mais de 40 anos. Contudo, sempre procuramos outros exemplos, principalmente europeus, que nos fossem mais próximos (culturalmente e legalmente). Fomos conhecendo alguns desses modelos, mas o grande salto quantitativo e qualitativo desse conhecimento dá-se a partir de 2017, a partir do momento em que nos juntamos a uma série de parceiros europeus para cofundar o movimento RESCALED, hoje uma associação sediada em Bruxelas.
A visão que atualmente temos para o nosso sistema, é assim amplamente alicerçado em todo o conhecimento (empírico e científico) que nos foi dado pelos parceiros que pertencem ao RESCALED, e se hoje temos formas simples de explicar e mostrar esta visão devemo-lo muito ao movimento e aos parceiros com quem tanto gostamos de trabalhar, discutir e aprender.
2. Estratégia
A visão sem uma estratégia e sem ações concretas, não passa de um sonho.
Ações, sem uma visão e uma estratégia, podem facilmente tornar-se num “pesadelo” (uma confusão pegada).
Depois de termos uma visão clara do que queríamos para o nosso sistema, termos parceiros (alguns com muitos mais anos de experiência do que nós) era importante começarmos a ser estratégicos na forma como alocamos recursos, e como fazemos este caminho para que Portugal pudesse mudar a perspetiva e o paradigma.
Assim, o movimento deu-nos acesso a como vários países têm conseguido evoluir os seus sistemas de detenção. Hoje é muito claro aquilo que fazemos e porque fazemos. Porque é que temos duas áreas de operações, uma de apoio social e outra de advocacy. Porque é que vamos abrir uma casa de saída em Braga, porque é que temos um negócio social (Reshape Ceramics) ou porque é que fazemos o Prison Insights anualmente.
Tudo aquilo que se vê publicamente do que fazemos, está integrado num propósito maior e numa visão profunda. Tudo aquilo que conhecem de nós, tem uma raiz comum, e essa é a nossa visão de que um dia ninguém voltará para a ser preso, depois de ter cumprido uma pena numa casa de detenção, de pequena escala, integrada na comunidade e com a possibilidade de um tratamento diferenciado.
3. Músculo
A melhor visão e estratégia do mundo, de nada servem se não existir uma equipa musculada para executar e implementar todas as ações necessárias. O RESCALED também nos trouxe este músculo e a oportunidade de começarmos a construir uma equipa profissional, 100% dedicada a fazer evoluir o sistema prisional português.
Hoje somos uma equipa de 10 pessoas, com experiências e backgrounds muito distintos, e embora nem todos se foquem e trabalhem na estratégia RESCALED que temos para Portugal (diretamente), todos são essenciais para que a RESHAPE evolua. Sem evolução da RESHAPE não existe execução da estratégia e por isso, direta ou indiretamente, consciente ou inconscientemente, estas 10 pessoas profissionais, os 30 voluntários e os 50 associados, fazem parte de todo este movimento Macro que começou em 2017 (ainda dentro de portas), que se apresentou ao mundo em 2019 (num grande evento em Bruxelas) e que nos últimos 3 anos tem pessoas em 5 países dedicadas a tempo inteiro aos princípios e ao movimento RESCALED.
Estamos ansiosos pelos próximos 3 anos, e por todos os planos que temos para continuar a fazer avançar este nosso sistema, que é tão importante para o país, como a educação ou a saúde.

Duarte Fonseca
Diretor Executivo da RESHAPE
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